
Agora, você poderia estar casada com um marido grosseiro arranjado, ser uma dona de casa rabugenta, ter cinco filhos ou mais e se sentir infeliz por dentro porque largou seus sonhos em ter uma profissão e trabalhar fora. Uma vida moldada aos valores de uma determinada época.
Só que não aconteceu isso porque os tempos são outros. Tudo mudou. A sociedade deixou para traz algumas crenças o que faz de você livre para escolher caminhos e fazer muitas coisas legais (ou não).
Você nasceu no lugar certo e no tempo certo, querida leitora. Somos mulheres privilegiadas por viver num país onde podemos escrever e nos manifestar com liberdade e sem precisar nos esconder atrás de um pseudônimo masculino.
Para isso ser possível, lá atrás, muitas mulheres abriram caminho. Mulheres do povo que sofreram bastante – figuras desconhecidas e conhecidas também – mães, esposas, trabalhadoras sem direitos, cientistas, escritoras.
Por acreditarem em seus direitos, fizeram manifestações pacíficas, carregaram faixas, enfrentaram a truculenta força policial da época, apanharam, foram presas injustamente e torturadas. Foram chamadas de arruaceiras e loucas, também.
Tiveram de agir de forma pesada para que suas vozes fossem ouvidas. Foi preciso pagar com a própria vida para que os holofotes iluminassem sua causa.
E quantas mulheres brilhantes o mundo teve e que foram caladas simplesmente por serem mulheres?
Não saberemos ao certo o número. Temos conhecimento de mulheres corajosas e fantásticas que marcaram época e causaram uma grande revolução.
Marie Curie, vencedora por duas vezes do Prêmio Nobel sendo um de Física, em 1903, por demonstrar da radioatividade natural e outro de Química, em 1910, por descobrir dois novos elementos químicos, sofreu bastante por ser mulher e deixou registrado em seu diário as vezes em que foi maltrata e reduzida.
Um livro que retrata bem isso é “A ridícula ideia de nunca mais te ver”, da autora espanhola Rosa Montero.
Para você ter uma ideia, Marie viveu na Rússia czarista onde mulheres NÃO tinham acesso à educação formal, então, montou grupos de estudos para transmitir conhecimento para outras pessoas.
Pare por um instante, feche seus olhos e imagine precisar se esconder para poder aprender alguma coisa. Tenso, não é mesmo? Ainda mais se pensarmos que o conhecimento está na palma das mãos nos dias de hoje.
Voltando a literatura….
Entre o século XIX e XX, muitas escritoras tiveram de usar pseudônimos masculinos para poder publicar seus livros porque mulheres em atividade intelectual cometiam uma transgressão enorme. Havia a crença de que “ninguém adquiria um livro escrito por mulheres”. E quando uma corajosa ousava publicar em seu próprio nome era duramente criticada por passar dos limites do seu claro papel na sociedade: casar e servir ao marido.
Tudo isso aconteceu por conta do forte machismo que as afetava pesadamente.
E não pense você que isso passou e as mulheres se libertaram completamente.
Numa época não muito distante, a “mãe” do bruxinho mundialmente famoso, a autora inglesa J. K. Rowling, a pedido da editora, teve de usar as iniciais do seu nome nos livros infantis para o público não saber se era um homem ou uma mulher. O argumento? O mesmo do século passado.
A história provou que mulheres escrevem tão bons livros quanto os homens. Pode falar o que quiserem. Contra fatos não há argumentos.
Sinceramente, eu não consigo imaginar a tristeza, frustação e decepções dessas mulheres, mas sou capaz de imaginar a esperança que brotava em seus corações.
Esperança essa que deu força para encontrar uma saída ao invés de se lamentar e chorar. Um livro escrito e não publicado é morto e elas conseguiram trazer a vida, deram à luz quando eram julgadas incapazes.
Escrever um livro significa colocar ali seus pensamentos e conhecimento. É poder falar com liberdade, contar histórias, ensinar, registrar toda uma época, causar os mais variados sentimentos no leitor e fazê-lo viajar.
Isso nos leva a um outro ponto é que a nossa voz. O seu tom pode ser mais doce, seco sarcástico ou agressivo. Pode ser por conta da sua educação ou por sua natureza. Será que somos o que realmente fomos educadas para ser?
As meninas, quando criança, costumavam ganhar vassourinha, rodo, jogo de cozinha (fogão com panelas, geladeira, armário) e eram incentivadas pelas mães, tias e/ou avós a brincarem de casinha ou fazer da sua boneca a filhinha. De forma inconsciente, eram educadas a serem mães e donas de casa. Isso não é culpa dos nossos antepassados. Elas foram criadas assim e passaram para frente o aprendizado.
As meninas cresceram e foram para a faculdade, conquistaram empregos com bons salários, seus títulos acadêmicos e/ou montaram seu próprio negócio. Algumas se casaram e outras não. A maioria teve filhos e outras não. Tudo foi por escolha e não por conta dos valores de uma época.
Liberdade é saber expressar aquilo que SENTE na escrita, na arte ou na música. Quando você se sente um com seu texto ou sua música, por exemplo, não precisa de mais nada. Neste momento, você compreendeu bem o sentido de ser livre.
Então, quando você for escrever coloque a sua voz e seus textos serão verdadeiros – vão falar de coração para coração. Escrever é ser livre…
Nosso caminho pode ser mais longo e mais desafiador porque ainda há batalhas a serem vencidas, mas não desista no primeiro obstáculo, nem com críticas ou falta de apoio ao seu sonho.
Só comece a escrever e vá em frente porque o mundo é todo seu.
Você é completamente livre…

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